Fundação Renova restaura áreas atingidas por rompimento de barragem
A restauração florestal em áreas atingidas por depósito de rejeitos depois do rompimento da Barragem do Fundão, no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 quilômetros (km) do centro do município de Mariana (MG), foi concluída no primeiro trimestre deste ano pela Fundação Renova. Já foram destinados R$ 356 milhões para a reparação de cerca de 550 hectares de florestas e áreas de Preservação Permanente (APPs) localizadas em Mariana, Barra Longa, Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Ponte Nova (Alto Rio Doce). Esses municípios sofreram o primeiro impacto ambiental do rompimento, que ocorreu no dia 5 de novembro de 2015.
De acordo com a Renova, o trabalho envolveu 202 propriedades rurais impactadas diretamente pelos rejeitos, com adesão e autorização dos produtores rurais. No total, as áreas atingidas receberam cerca de 300 mil mudas de 96 espécies nativas. “Todos os hectares foram protegidos, seja por cercamento ou pela própria vegetação nativa existente no local. Foram executados em torno de 526 km de cerca para proteger e delimitar as APPs”, assegurou a fundação.
Em 2015 e 2016, quando começou a restauração para controle de erosão, houve o plantio emergencial de 800 hectares com gramíneas e leguminosas de rápido crescimento. Ao mesmo tempo, calhas, margens e planícies foram regularizadas e receberam nova vegetação, além da realização da recomposição da mata ciliar, fundamental para a qualidade dos cursos d’água.
A definição da metodologia de preparo inicial do solo afetado e sobrevivência de espécies levou em consideração o resultado positivo de um plantio piloto, feito em 2017, com espécies nativas para testes de restauração florestal sobre rejeitos.
O gerente do Uso Sustentável da Terra da Fundação Renova, Giorgio Peixoto, chamou atenção para a inovação do método. “O plantio sobre o rejeito é uma situação inovadora dentro da comunidade científica e no mercado de restauração florestal. Até então, todas as atividades tiveram que ser adaptadas para esse tipo de área. O tamanho da cova, a adubação após as análises de solo e até mesmo as mudas nativas tiveram um cuidado e tratamento diferenciados”.
De acordo com a Renova, o reflorestamento em 2018 se tornou viável a partir de estudos do solo impactado, coordenados por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Um deles foi desenvolvido pela especialista em microbiologia do solo Maria Catarina Kasuya, que analisou amostras de mudas que receberam substrato à base de tipos de fungos e bactérias para repovoar áreas afetadas e permitir um crescimento com qualidade e eficácia.
A pesquisa mostrou ainda que a revegetação emergencial auxiliou na repovoação da biomassa microbiana dos solos onde houve deposição de rejeitos. “Com os microrganismos, foi possível cultivar mudas resistentes a solos críticos, como trechos onde há rejeitos”, informou a fundação.
Além disso, os estudos feitos pelo professor titular do Departamento de Engenharia Florestal da UFV, Sebastião Venâncio, indicaram que o rejeito não impede o processo de recuperação ambiental se houver a aplicação de técnicas de manejo e melhoria na fertilidade do solo com nutrientes adequados.
O Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), que criou a Fundação Renova em 2016, previa o reflorestamento de 2 mil hectares. No projeto foi realizado o mapeamento da região a ser reflorestada e depois de estudos detalhados, a fundação concluiu que, da área de 2 mil hectares, cerca de 550 são passíveis de reflorestamento. O restante, em torno de 1.450 hectares, corresponde a corpos d’água, construções civis, rochas, estradas consolidadas, áreas agrícolas, áreas íngremes, areal, as vilas de Bento Rodrigues e de Paracatu de Baixo, cidades da sede de Barra Longa, faixa de servidão de rede elétrica, mineroduto, gasoduto e rodovia, passagem para dessedentação animal e áreas de inundação. “Com o detalhamento das regiões, foi possível destinar cada uma dessas áreas a ações específicas de atuação da Fundação Renova na reparação”, completou.
Com a conclusão da restauração florestal em áreas diretamente atingidas, a Fundação Renova vai protocolar os resultados na Câmara Técnica de Restauração Florestal e Produção de Água (CTflor) e no Comitê Interfederativo (CIF).
A próxima fase é o monitoramento ecológico da região para avaliar a efetividade e o sucesso da restauração e dos métodos usados. “A partir do levantamento de dados, será analisada a necessidade de ações corretivas. A entidade ficará ainda encarregada pelas manutenções até 2026, como roçadas, adubações, combates a formigas e replantios, caso necessário. Para essa etapa de monitoramento, a previsão é que sejam destinados R$ 81 milhões” afirmou a Renova.
Na visão do gerente Giorgio Peixoto, as ações feitas na calha do rio e em seus afluentes geram aumento na produção de água e no lençol freático. “Além disso, as atividades reduziram os riscos de erosões ao evitar o carreamento de sedimentos ao rio. As ações também possibilitaram a melhoria da qualidade da água nos rios, o aumento da qualidade do solo a partir da infiltração no solo. Permitiram ainda uma recuperação mais rápida das áreas de preservação permanente”, comentou.
Segundo a Renova, as ações seguiram o programa de reflorestamento estabelecido pelo TTAC, que prevê a revegetação e aplicação de enrocamento (dispositivo amortecedor formado por estrutura executada em pedra) e outros métodos nas áreas onde houve depósito dos rejeitos.
Para fazer a adesão de 202 proprietários na restauração ambiental, foi necessária a retificação ou a elaboração do Cadastro Ambiental Rural (CAR). O trabalho começou após a assinatura de um termo de adesão à adequação ambiental por parte do dono do terreno e a apresentação do projeto específico da propriedade. “Com a autorização, a Fundação Renova iniciou o cercamento para proteger e delimitar a área de APP. Em seguida, com o preparo de solo, a equipe em campo realizou o combate a formigas, adubação e o plantio das mudas nativas”, informou.
Além de autorizarem e aderirem à adequação ambiental, alguns proprietários realizaram também atividades de implantação, como o plantio e a manutenção do que foi plantado. “Nesse processo, o dono do terreno efetua a atividade e recebe por isso, com os insumos sendo fornecidos pela Fundação Renova. É uma forma de parceria que cria um sentimento de dono de uma área preservada e gera uma receita a mais para o atingido”, afirmou Giorgio Peixoto.
A Fundação Renova é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, criada com o propósito exclusivo de gerir e executar os programas e ações de reparação e compensação dos danos causados pelo rompimento da Barragem do Fundão.
Fonte: Agência Brasil
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